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Entre o céu e o inferno: a tempestade política de Macron

setembro 24, 2025 | by Igor

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22 de setembro, segunda-feira. Em sua 80 edição, a abertura da Assembleia das Nações Unidas — evento anual que reúne chefes representantes de 193 países — , Emmanuel Macron, presidente da França, faz um gesto histórico. Juntamente com Arábia Saudita, o país europeu realiza uma cúpula que trata da resolução de reconhecimento de dois Estados: o da Palestina e o de Israel. Essa ação entra na esteira de uma série de medidas adotadas por países do Ocidente, em especial do continente europeu, que se contrapõem ao processo de atual genocídio palestino liderado pelo Primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.

França reconheceu o Estado palestino na 80° Assembleia das Nações Unidas — Foto: Angelina Katsanis/AP.

Emmannuel Macron, assume na atualidade, um papel de liderança em seu continente. Ele faz parte de uma safra antiga de políticos, se elegendo para o seu primeiro mandato nas eleições de 2017, conseguindo meses depois alavancar o seu partido recém-criado, o LREM (La République En Marche!, em sua versão original), ao posto de maior bancada de deputados na Assembleia Nacional, e conseguindo se reeleger cinco anos depois. Em contrapartida, as outras grandes potências vizinhas — Alemanha, Reino Unido e Itália — passaram na década de 2020 por um processo de renovação de liderança, sem grande destaque para nenhum delas, pelo menos não em comparação com a força política do presidente francês.

CRISE POLÍTICA

Se por um lado Macron consegue impor a agenda de interesses da França no cenário geopolítico global, nos assuntos internos sua gestão “pisa em ovos” com cada vez mais frequência. Nas eleições legislativas que sucederam sua reeleição em 2022, a coligação centrista do presidente sofreu um forte revés ao perder 105 dos 350 assentos conquistados anteriormente tanto para o NUPES (aliança de partidos de esquerda) quanto o RN (Frente Nacional, partido de ultradireita de Marine Le Pen, candidata derrota por Macron nos 2° turnos de 2017 e 2022). Desde então, seu governo se encontra fragilizado com uma maré de adversidades no campo da política nacional.

Emmanuel Macron e Marie Le Pen se enfrentaram mas eleições presidenciais de 2017 e 2022 — Foto: Ludovic Marin/AP.

Mesmo antes os resultados presidenciais em 2022, o governo Macron já enfrentava desgaste perante o eleitorado francês. A média das pesquisas de avaliação durante suas gestões indicava uma aprovação abaixo dos 40%, por um longo período de tempo, com tendência de estabilidade à piora. Todo esse clima tenebroso piorou após o uso constante do Artigo 39.3 da Constituição do país, pela então primeira-ministra Élisabeth Borne, que dispensava a necessidade de aprovação legislativa de projetos de lei propostos pelo governo. Borne foi demitida em junho de 2024 e eleições antecipadas para o legislativo foram convocadas.

ELEIÇÕES DE 2024

O resultado das eleições legislativas antecipadas foram um balde de água fria para o grupo político de Macron, ainda mais depois do recuou sentido nas eleições do Parlamento Europeu semanas antes. A coligação Ensemble (sucessora do LREM) seguiu o processo de declínio visto dois anos ao obter apenas 159 cadeiras, diminuição de 86. A aliança esquerdista NFP (Nouveau Front populaire) emerge, portanto, como principal bloco conquistando 180 assentos, enquanto o RN, com alianças esporádicas com candidatos dissidentes do campo da centro-direita, por pouco não ultrapassa os governistas após sair vitorioso em 142 círculos eleitorais.

Coligação de esquerda e centro-esquerda se torna a maior força política após as eleições de 2024 — Foto: Thomas Padilla/AP.

Contrariando as expectativas de nomear uma figura de esquerda para o cargo de Primeiro-ministro, por emergir justamente como o maior grupo parlamentar, o presidente francês realizou uma manobra política ao seu favor e, com ajuda de partidos da oposição, elege Gabriel Attal (Renaissance) para comandar o gabinete ministerial do Estado. No entanto, a instabilidade política vinculada ao governo minoritário de Macron, agora um “pato manco”, levaram a queda de Attal (7 meses de mandato) e de seus sucessores, também alinhados ao presidente, Michel Barnier (3 meses) e François Bayrou (8 meses).

O Primeiro-ministro incumbente, Sébastien Lecornu (Renaissance), enfrenta o desafio de representar o que se espera ser os últimos anos da Era Macron: de um lado popular em um mundo cada vez mais fragmentado, por outro um fruto podre que os franceses de diferentes espectros políticos se recusam a ingerir até o final.