Nos últimos séculos, o continente africano foi dominado por forças estrangeiras. Rica daqueles recursos que já se mostravam escassos nos territórios dos povos invasores, a África herda atualmente valores impostos de maneira violenta, em especial pelo povo europeu. Em contrapartida, movimentos contrahegemônicos liderados por militares nacionalistas desafiam o conceito de democracia, minando também a participação direta da população em diferentes países do norte.
A independência das nações africanas em relação aos seus colonizadores ainda é muito recente. Neste contexto, a maioria dos movimentos exitosos de emancipação política e adminstrativa só se deu a partir da década de 1960. Os próprios limites terriroriais existentes são resultados de décadas de dominação estrangeira.
Mais recentente, a pandemia de Covid-19 colocou em cheque a dependência tecnológica e logística do continente em detrimento de potências mundiais. Em recuperação econômica, o tecido social de alguns países desafia então um modelo de democracia similar ao do “mundo desenvolvido”, sendo este marcado pela adoção de eleições legislativas e/ou presidenciais periódicas que estruturam o corpo político de diferentes sociedades.
Reflexo tardio da Primavera Árabe (2020–2012), rede de agitações sociais que derrubaram governos totalitários no mundo, movimentos das altas cúpulas militares do norte da África, em especial na região do Sahel, tomaram o poder ao distituir lideranças que se mantinham já por muito tempo, na maioria dos casos figuras conhecidas por pertencer a grupos atuantes nos respectivos processos de independência de cada país.
Em 2021, na vanguarda de golpes de Estado do atual século, semanas após as eleições presidenciais no Chade, o mandatário por cinco mandatos e reeleito Idriss Déby (1991-2021), foi morto em combate contra grupos opositores. Como resultado, seu filho, Mahamat Déby assume o poder de forma provisória, mas no ano de 2022 assume de maneira definitiva após dissolver o conselho militar, aprova um referendo em 2024 que cria uma nova Constituição e concorre com sucesso à reeleição no mesmo ano.
Também em 2021, os governos do Mali (24 de maio), Guiné (5 de setembro) e Sudão (25 outubro) caíram por ação das forças armadas desses países. Especialistas discutem, inclusive, o papel de apoio do Grupo Wagner — organização militar sediada na Rússia — a essas operações dentro de um contexto de expansão de influência russa sobre localidades colonizadas por países como França e Reino Unido na África.
Com excessão do Guiné, onde eleições estão marcadas para o fim de dezembro com o militar no cargo de presidente interino como candidato, não existe previsão de processos políticos de escolha à médio prazo, deixando uma brecha clara para a perpetuação de poder por militares não eleitos.
Ainda na mudança abrupta de regimes no continente africano, o presidente imcubente Roch Marc Kaboré (2015–2022) de Burkina Faso foi deposto por militares e o parlamento eleito dissolvido. Em um movimento surpreendente, um capitão do exército chamado Ibrahim Traoré derrubou o governo golpista recém-instituído. Desde estão, o governo se aproximou da Rússia, ao ponto de reabrir a embaixada deste país fechada em 1992.
Em 2023, foi a vez dos governos do Níger e Gabão serem substituídos por regimes totalitários chefiados por militares. Em julho, o Chefe da Guarda Presidencial do Níger, Abdourahamane Tchiani subiu ao poder com a deposição do então presidente Mohamed Bazoum (2021–2023). Já no mês seguinte no Gabão, Brice Oligui Nguema, Comandante Chefe da Guarda Republicana, começou um governo transitório após a queda do remige de Ali Bongo (2009–2023). No entanto, dois anos passados, Nguema se candidata formalmente à presidência e vence quase de maniera unânime em uma eleição com participação recorde, segundo orgãos eleitorais.

Umaro Sissoco Embaló é o 8 presidente destituído nesta década por militares / Foto: Stephane de Sakutin, Pool via AP, Arquivo
O mais recente golpe de Estado ocorreu em Guiné-Bissau. Com pano de fundo as eleições gerais de 23 de novembro de 2025, adiadas por quase um ano em decorrência de uma tentaiva frustada de golpe militar. Dias após as eleições militares anunciaram “controle total” sobre o país, com o presidente imcubente e candidato à reeleição Umaro Embaló se refugiando em Senegal, país que compartilha fronteira com o território alvo de ruptura institucional. O general Horta Inta-A Na Man é atualmente o lider do governo militar transitório em Guiné-Bissau.